sábado, maio 29, 2010
Gostaria de escrever sobre todas as formas de encantantamento, todas. Seu eu pudesse, falaria do encantamento de algumas coisas que ainda ne tocam. Falaria talvez das manhãs, se elas ainda existissem. Falaria talvez de um poema, se eu lembrasse de algum. Lembraria a figura de algum poeta, se eles ainda estivessem no mundo. Gostaria de falar de encantamentos. Gostaria de falar dos sonhos dos moradores de rua, mas eu não sei se eles sonham. Sei que sofrem. Eu não sei se existe encantamento nas pessoas que sofrem como eles. Gostaria de falar das imagens que passaram por mim e que hoje são apenas um profundo esquecimento na minha memória. Gostaria de escrever sobre todas as formas de encantamento. Gostaria de falar sobre as palavras, mas as palavras estão gastas, quase todas perderam o sentido. Gostaria de falar de uma tarde num circo, mas os circos desapareceram. Uma tarde de domingo, escondida em algum lugar da infância. Gostaria de escrever sobre encantamentos, como andar de mãos dadas, como fazer juras de amor, como escrever uma carta, como caminhar junto ao mar, como andar entre as árvores, como mexer na terra, como colher sementes, como tomar um copo de vinho ou como rezar uma prece desconhecida. Gostaria de escrever sobre encantamentos. Gostaria de ser encantador de serpentes. Gostaria de tocar flauta. Gostaria de andar descalço mais vezes. Gostaria de caminhar na chuva. Gostaria de ser apresentado a mim mesmo. Gostaria de escrever sobre encantamentos. De falar uma linguagem que ninguém entendesse. Gostaria de ver mais as gaivotas que nunca vejo. Gostaria de passear sentimentos entre as pedras. Gostaria de escrever sobre encantamentos. Gostaria de colher as estrelas cadentes. Gostaria também de guardar as luas cheias que nascem no teto de meu quarto. Gostaria de mexer nas plantas, com o cuidado de um monge que chora. Gostaria de cantar para as aves. Gostaria de escrever sobre encantamentos, mas eu sei que não conseguiria.
Confúcio
"Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade."